By Hasanboy Burhanov, fundador do movimento de oposição política Erkin O'zbekiston (Uzbequistão Livre).
A relatório em inglês, distribuído aos participantes da 23ª Conferência da Aliança contra o Tráfico de Pessoas organizada pelo Gabinete do Representante Especial e Coordenador para o Combate ao Tráfico de Seres Humanos da OSCE.
Centro de Congressos Hofburg Viena (Áustria) 18.04.2023
Queridos colegas,
O Uzbequistão foi e continua sendo o maior exportador de trabalhadores migrantes na Ásia Central. Mais de 5 milhões de pessoas são forçadas a encontrar trabalho longe de casa para poderem sustentar a si mesmas e suas famílias.
Após a invasão russa da Ucrânia, dezenas de milhares de trabalhadores migrantes do Uzbequistão e de outras repúblicas da Ásia Central foram enviados para construir estruturas defensivas nos territórios ocupados da Ucrânia. A situação deles ali equivale à escravidão.
Na Rússia – nas mesquitas e nas comunidades da diáspora, especialmente aquelas com raízes na Ásia Central – encontram-se exemplos de propaganda sistemática, destinada a atrair migrantes da Ásia Central para a guerra contra a Ucrânia. Em sua propaganda dirigida aos muçulmanos, as autoridades russas têm persistentemente colocado a guerra contra a Ucrânia no contexto de um conflito religioso.
Ao mesmo tempo, o regime de Mirziyoyev está em silêncio e tenta não perceber as ações provocativas das autoridades russas, pois apóia totalmente a agressão russa contra a Ucrânia.
Em janeiro de 2018, 52 pessoas foram queimadas vivas em um ônibus no Cazaquistão. Todos eles eram cidadãos uzbeques que viajavam para a Rússia a trabalho. As autoridades uzbeques nem mesmo declararam luto nacional pelas trágicas mortes de seus cidadãos. Na verdade, em toda a história do Uzbequistão moderno, as autoridades do país nunca declararam luto nacional, embora tenha havido várias ocasiões para fazê-lo. A única exceção foi o período de luto de três dias após a morte do presidente Islam Karimov, em setembro de 2016.
Eu destaquei esse fato para que você possa entender o quão desdenhosas as autoridades uzbeques são para com seu povo.
O trabalho forçado está presente no Uzbequistão. É também de salientar que duas vezes por ano, durante dois dias, os trabalhadores do país têm de trabalhar gratuitamente para o Estado. Seus quatro dias de salário são transferidos à força para uma conta especial da Fundação Pública de Caridade “Mahalla” do Uzbequistão. Esse trabalho forçado é disfarçado de “khashar” (subbotnik, ou serviço voluntário no fim de semana). Esses vestígios do passado soviético ainda estão preservados no Uzbequistão.
Também é sabido que as autoridades uzbeques continuam a fazer uso extensivo de trabalho infantil no cultivo e colheita do algodão.
Diante de todos os fatos mencionados acima, exigimos que as autoridades uzbeques parem de mentir para a comunidade mundial. Nenhuma reforma está acontecendo no atual Uzbequistão! O alto índice de aprovação do regime de Mirziyoyev, demonstrado por várias pesquisas, é resultado da guerra de informação liderada pelos estados russo e uzbeque.
Nossas recomendações aos Estados participantes da OSCE:
– realizar audiências parlamentares públicas sobre o Uzbequistão, no contexto da assistência do regime de Mirziyoyev à Rússia na tentativa de contornar as sanções internacionais. Da nossa parte, estaremos prontos para prestar depoimento sobre o assunto, manifestar-nos publicamente e esclarecer dúvidas dos participantes e assistentes das audiências;
– considerar atrair trabalhadores migrantes do Uzbequistão para os mercados de trabalho da UE, Reino Unido, EUA e Canadá;
– aumentar os programas de subsídios e financiamento, a fim de conter a propaganda russa e a campanha de desinformação na região da Ásia Central.
Muito obrigado pela sua atenção.
Foto de Robert Stokoe: