Marta Valiñas, Presidente da Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre a Venezuela, apresentou seu mais recente Denunciar para a ONU Conselho de Direitos Humanos em Genebra, que abrange o período de janeiro de 2020 a agosto deste ano.
O relatório, publicado na semana passada, centrou-se em duas áreas: os vários “mecanismos de repressão” utilizados pelo Estado, e a necessidade de monitorizar uma nova força de segurança cujos membros incluem oficiais que alegadamente estiveram envolvidos em crimes contra a humanidade.
‘Táticas repressivas’
“O que estamos a testemunhar é o impacto acumulado destas táticas repressivas que deram origem a um ambiente predominante de medo, desconfiança e autocensura. Como consequência, os pilares fundamentais dos fóruns cívicos e democráticos foram seriamente corroídos na Venezuela”, disse Valiñas, falando em espanhol.
Ela alertou que as medidas repressivas provavelmente aumentarão no período que antecede as eleições presidenciais do próximo ano.
Durante o período do relatório, pelo menos 58 pessoas foram detidas arbitrariamente, de acordo com o relatório.
Incluíam líderes sindicais, defensores dos direitos humanos, membros de organizações não governamentais, jornalistas, membros de partidos da oposição e outros que expressaram críticas ao governo do Presidente Nicolau Maduro.
Assassinatos arbitrários e tortura
A Missão investigou nove mortes para determinar se estavam ligadas à detenção, encontrando motivos razoáveis para acreditar que cinco eram homicídios arbitrários que poderiam ser atribuídos às autoridades do Estado.
Além disso, pelo menos 14 indivíduos desapareceram à força por períodos que variaram de várias horas a 10 dias. A Missão documentou 28 casos de tortura ou tratamento degradante em locais de detenção oficiais ou clandestinos, sendo a violência sexual e baseada no género a mais prevalente.
Valiñas disse que estes incidentes representam uma diminuição em relação aos períodos de relatório anteriores, refletindo uma mudança na crise política e de direitos humanos na Venezuela.
O início do Covid-19 A pandemia resultou no fim dos protestos da oposição e subsequentes detenções em massa, tortura e represálias em grande escala.
Liberdades sob ataque
“Nossa conclusão é que na Venezuela continuam graves violações dos direitos humanos e que essas violações não são eventos isolados. Em vez disso, refletem uma política de repressão à dissidência”, disse ela.
A Missão também investigou tentativas contra as liberdades de expressão, reunião e associação pacífica, e o direito de participação na vida pública.
Foram documentados “numerosos casos” de repressão selectiva, nomeadamente contra sindicalistas, jornalistas, defensores dos direitos humanos, líderes políticos e seus familiares. As principais instituições da sociedade civil, os partidos políticos e os meios de comunicação social também foram visados.
Nova força estratégica
O relatório também expressou preocupação com um novo órgão policial, a Diretoria de Ações Estratégicas e Táticas (DAET), criada em julho de 2022.
A Missão concluiu que o DAET é uma continuação das extintas Forças de Acção Especial (FAES), que identificou como uma das estruturas mais envolvidas em execuções extrajudiciais, entre outras graves violações dos direitos humanos, no contexto do combate ao crime.
Valiñas disse que 10 dos 15 cargos de topo são ocupados por ex-líderes da FAES, “e estas já eram pessoas que foram citadas em relatórios anteriores da nossa Missão porque acreditamos que estiveram envolvidas em crimes internacionais”.
Ela citou alegações sobre o envolvimento da nova força em operações no ano passado que estavam ligadas a múltiplos assassinatos e mais de 300 detenções.
“Estas ações foram muito semelhantes às estratégias utilizadas pelas Forças Especiais quando existiam, incluindo execuções extrajudiciais”, disse ela, apelando a uma investigação mais aprofundada.