Enquanto o Parlamento Europeu se prepara para votar uma resolução relativa à República Democrática do Congo (RDC) no final desta semana, Sua Eminência Monsenhor Mariano Crociata, Presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), emitiu um apelo urgente à União Europeia e à comunidade internacional em relação à crescente crise humanitária, de segurança e política na República Democrática do Congo (RDC). Este apelo surge em meio a evidências crescentes de sofrimento generalizado em Goma e áreas vizinhas, onde o conflito e a exploração deixaram milhões de pessoas deslocadas, vulneráveis e desesperadas por ajuda.
Uma situação catastrófica em Goma
A cidade de Goma, um centro crítico para assistência humanitária, comércio e transporte no leste da RDC, encontra-se no epicentro do caos após sua tomada pelo grupo rebelde M23 e seus aliados. De acordo com números recentes das Nações Unidas, quase 3,000 pessoas perderam suas vidas, enquanto mais de um milhão foram deslocadas à força em poucas semanas. Milhares de outras estão buscando refúgio em igrejas superlotadas, escolas e acampamentos improvisados, lutando para acessar necessidades básicas como comida, água e assistência médica.
Instituições administradas pela Igreja, que frequentemente servem como tábuas de salvação em crises, não foram poupadas. Relatórios indicam que hospitais, incluindo o Charité Maternelle General Hospital, foram atacados, resultando em mortes trágicas de recém-nascidos e ferimentos graves em civis. A violência sexual contra mulheres e meninas é galopante, exacerbando as condições já terríveis. Agências católicas no local descrevem cenas de desespero, com instalações de saúde sobrecarregadas e recursos esticados ao ponto de ruptura.
Resposta da UE e apelos para uma maior acção
Embora reconhecendo a recente atribuição de 60 milhões de euros em ajuda humanitária pela União Europeia, COMECE pede esforços reforçados para garantir que esse apoio chegue aos mais necessitados. Garantir acesso humanitário irrestrito às zonas de conflito e proteger civis — especialmente mulheres e crianças — da violência e exploração deve continuar sendo prioridades máximas. Além disso, parcerias com redes de igrejas locais, que continuam a fornecer serviços essenciais como educação, saúde e abrigo, devem ser fortalecidas.
Monsenhor Crociata ressalta a importância de abordar as causas raiz da crise, que incluem décadas de exploração de recursos, interferência estrangeira e violência cíclica. Para alcançar uma paz duradoura, ele defende a coragem política e o diálogo diplomático, acolhendo iniciativas como o “Pacto Social pela Paz e Coexistência na República Democrática do Congo (RDC) e na Região dos Grandes Lagos”. Proposto pelas Igrejas Católica e Protestante, este roteiro busca acabar com a violência e promover a coexistência pacífica e a coesão social.
Interferência estrangeira e estabilidade regional
O envolvimento de exércitos e milícias estrangeiras, notadamente o suposto apoio de Ruanda aos rebeldes do M23, representa uma grave violação do direito internacional. A intenção declarada do M23 de expandir o conflito em direção à capital da RDC levanta preocupações alarmantes sobre a estabilidade regional. Em resposta, a COMECE insta a EU e a comunidade internacional para exercer pressão sobre esses atores para que cessem as hostilidades, negociem de boa-fé e respeitem a integridade territorial e a soberania da RDC.
Além disso, o saque de recursos naturais, incluindo cobalto, coltan e ouro, alimenta o conflito e perpetua ciclos de violência. Para combater isso, a COMECE pede maior transparência nas práticas de mineração e a aplicação de estruturas de due diligence ao longo das cadeias de suprimentos vinculadas aos minerais congoleses. Considerações econômicas não devem minar o compromisso da UE em defender valores e princípios essenciais.
Sanções específicas e reavaliação da cooperação económica
A COMECE incentiva o Parlamento Europeu a apoiar apelos para sanções específicas contra indivíduos e entidades responsáveis por direitos humanos abusos e violações do direito internacional. Além disso, os termos dos acordos de cooperação econômica, como o 'Memorando de Entendimento sobre Cadeias de Valor de Matérias-Primas Sustentáveis', devem ser reavaliados para garantir o alinhamento com padrões éticos e mecanismos de responsabilização.
Apelo da COMECE por Solidariedade e Justiça
Em solidariedade à população sofredora da RDC, a COMECE promete monitorar de perto os desenvolvimentos no local e facilitar a comunicação entre a Igreja local e as instituições da UE. Por meio de oração e advocacia, a organização permanece firme em seu compromisso de promover justiça, dignidade e paz duradoura.
Como o Papa Francisco recentemente instou, resolver o conflito por meios pacíficos requer o esforço coletivo tanto das autoridades locais como da comunidade internacional. A UE, como líder global em acção humanitária e direitos humanos advocacy, carrega uma responsabilidade única de agir decisiva e efetivamente. Ao priorizar diplomacia, responsabilização e colaboração, pode ajudar a transformar a tragédia atual em uma oportunidade de reconciliação e renovação no coração da África.