"Somos levados ao nosso limite”, disse Ayaki Ito, Diretor de Emergências da agência da ONU para refugiados, ACNUR.
Uma mãe estava tão desesperada para chegar a um lugar seguro que cruzou o rio Rusizi, de 100 metros de largura, que separa a República Democrática do Congo e o Burundi, com seus três filhos pequenos e seus pertences, disse o Sr. Ito a jornalistas em Genebra:
“Eu vi esta bola de plástico – é uma mãe e três crianças pequenas – ela colocou seus pertences e embrulhou com uma folha de plástico, para fazê-la flutuar…É uma jornada muito perigosa e me disseram que é cheia de crocodilos e hipopótamos.”
Recursos sobrecarregados
Desde janeiro, mais de 71,000 pessoas cruzaram a fronteira para o Burundi, fugindo da violência contínua no leste da RDC, segundo dados do ACNUR. Desde então, mais de 12,300 foram realocadas para o campo de refugiados de Musenyi, enquanto outras vivem com comunidades anfitriãs em áreas de fronteira.
As condições de vida em Musenyi – a cinco horas de carro da fronteira com a RDC – estão se tornando insustentáveis.
O local hoje abriga 16,000 pessoas, embora tenha sido projetado para 3,000, aumentando as tensões.As rações alimentares já foram reduzidas para metade do que deveriam ser”, explicou o Sr. Ito, alertando que mesmo essas rações acabarão até o final de junho sem financiamento adicional.
No entanto, a comida está longe de ser a única preocupação, já que as tendas de emergência montadas em áreas agrícolas de terras baixas agora estão inundadas durante o início da estação chuvosa.
As equipes de ajuda já estão se preparando para o aumento das doenças.
Pessoas que fugiram da violência na República Democrática do Congo para o Burundi usam um ponto de água em um campo de refugiados na província de Cibitoke.
“Escolas, clínicas e sistemas de saneamento básico são inexistentes ou estão sobrecarregados” e a agência da ONU não tem mais kits de dignidade, deixando quase 11,000 mulheres e meninas sem acesso a itens básicos de higiene, disse o Sr. Ito.
Cortes de financiamento na crise
A crise de financiamento do ACNUR também “reduziu severamente” o apoio ao rastreamento de famílias, tornando cada vez mais difícil identificar, localizar e reunir crianças separadas com suas famílias.
Atualmente, não há espaços adequados para crianças ou mulheres onde os grupos possam se reunir para serviços e apoio entre pares nas principais áreas de acolhimento, acrescentou o Sr. Ito.
Diante das condições de vida catastróficas no Burundi e dos confrontos violentos em curso no leste da RDC entre os rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, e as forças governamentais, os refugiados frequentemente se deslocam entre os dois países. "Quase metade dos 700 refugiados registrados na semana passada já estavam registrados no Burundi", disse o funcionário da ONU, ressaltando que os refugiados congoleses estão entre os mais vulneráveis do mundo.
Citando recursos reduzidos e desafios operacionais, a agência da ONU insistiu que a prestação de serviços de ajuda e proteção vitais continua sendo uma prioridade. Isso inclui apoio adicional em meio a um aumento de 60% nos casos de violência sexual relatados, a maioria envolvendo estupro, na República Democrática do Congo.
"Este ato de equilíbrio está se tornando cada vez mais impossível", com equipes em campo executando uma resposta de emergência em grande escala, respondendo às necessidades dos refugiados existentes no país e se preparando para futuras chegadas, ao mesmo tempo em que enfrentam pressão para reduzir suas operações devido à escassez de financiamento", disse o Sr. Ito.