Em uma decisão histórica, o cardeal Robert Francis Prevost de Chicago foi eleito papa, tornando-se o primeiro americano dos EUA (2º americano depois do Papa Francisco) para liderar a Igreja Católica Romana. O anúncio, relatado por Newsweek na quinta-feira, marca um momento crucial para uma Igreja global que enfrenta profundas divisões internas e uma era pós-Francisco incerta.
Uma eleição histórica em meio a tensões internas
O cardeal de 69 anos, que passou grande parte de sua carreira clerical no Peru e fala espanhol e italiano fluentemente, emergiu como um dos principais candidatos durante o conclave secreto que se seguiu à morte do Papa Francisco. Sua eleição reflete tanto uma ruptura com a tradição quanto uma escolha cuidadosamente calibrada pelo Colégio Cardinalício durante um período de reflexão teológica e institucional.
De acordo com as NewsweekA escolha de Prevost ocorre em um momento em que os cardeais debatem se devem manter a abordagem pastoral mais inclusiva defendida pelo Papa Francisco ou retornar a um estilo de liderança mais rigoroso e centrado na doutrina. Prevost parece estar em algum lugar no meio, mas ainda próximo o suficiente de Francisco.
“Ele representa o meio-termo digno”, disse o Rev. Michele Falcone, da Ordem de Santo Agostinho, falando a The New York Times em 2 de maio. Essa posição intermediária pode ter sido um fator-chave em sua ascensão ao papado.
Quem é o Papa Leão XIV?
Ordenado em 1982, o caminho de Prevost até o papado foi moldado por décadas de serviço fora dos Estados Unidos. Ele obteve o doutorado em Direito Canônico em Roma, no Pontifício Colégio São Tomás de Aquino, e passou mais de 20 anos no Peru, onde serviu como Bispo de Chiclayo de 2015 a 2023. Posteriormente, naturalizou-se cidadão peruano.
Em 2023, o Papa Francisco o nomeou para liderar a Dicastério para Bispos, um poderoso órgão do Vaticano que supervisiona as nomeações episcopais em todo o mundo, conforme relatado pelo Associated Press. O papel o colocou no centro do aparato de liderança global da Igreja e expandiu sua influência entre os membros do Vaticano.
Mas a visão de liderança de Prevost permanece baseada na humildade. Em uma entrevista de 2024 com Notícias do Vaticano, ele observou: “O bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino”, mas deve, em vez disso, “estar perto das pessoas a quem serve, caminhar com elas, sofrer com elas”, de acordo com The New York Times.
Um Papa Unindo Mundos
Nascido nos subúrbios ao sul de Chicago e criado na paróquia de Santa Maria da Assunção, perto de Dolton, Illinois, a educação americana de Prevost contrasta com sua vasta experiência internacional. Essa dupla identidade — raízes no Centro-Oeste e profunda imersão na América Latina — fez dele uma figura capaz de conectar diversas culturas dentro da Igreja global.
“Naquela época, era bem claro que esse seria o seu caminho”, disse John Doughney, um ex-colega de classe de St. Mary's, ao Chicago Sun-Times. “Alguns de nós já tínhamos considerado isso. Era uma espécie de fantasia para a maioria dos jovens. Para ele, acho que era uma verdadeira vocação.”
Daniel Rober, professor e chefe de estudos católicos na Sacred Heart University, disse Newsweek que Prevost pode ter sido visto como uma alternativa mais prática e menos politicamente arraigada a outros candidatos importantes, como o Cardeal Pietro Parolin. Rober observou que a força administrativa de Prevost, aliada à sua posição de outsider da burocracia vaticana, pode ter atraído cardeais que buscavam competência e reforma.
Navegando em uma encruzilhada global
A eleição de Prévost ocorre em um momento de complexidade teológica e geopolítica. A Igreja Católica enfrenta problemas urgentes, desde o declínio da frequência à igreja no Ocidente até a agitação política no Sul Global, e desde debates internos sobre a inclusão LGBTQ+ até questionamentos sobre a responsabilização do clero.
Observadores afirmam que o Cardeal Robert pode sinalizar continuidade à orientação de justiça social de Francisco, ao mesmo tempo em que adota um tom doutrinário mais centrista. Sua eleição também pode remodelar a ótica política global da Igreja, destacando a crescente influência das Américas na vida e na liderança católicas.
Embora as reações de outros líderes religiosos e figuras políticas globais ainda estejam surgindo, o consenso dos primeiros comentários é claro: esta é uma ruptura histórica e simbólica com séculos de sucessão papal eurocêntrica.
Olhando para o futuro
Com seu papado apenas no início, ainda há dúvidas sobre como o Papa Leão XIV equilibrará as facções conflitantes dentro da Igreja e enfrentará os crescentes desafios globais. No entanto, com seu longo histórico de serviço, perfil público modesto e dedicação ao cuidado pastoral, o novo papa parece pronto para continuar — e possivelmente recalibrar — o legado de seu antecessor.
Sua jornada do subúrbio de Illinois até o trono de São Pedro marca não apenas um marco pessoal, mas um capítulo potencialmente transformador para a própria Igreja Católica.