Por São Basílio, o Grande
Regra Moral 80
Capítulo 22
O que é característico de um cristão? Fé que opera pelo amor (Gálatas 5:6).
O que é inerente à fé? Uma confiança imparcial na verdade das palavras inspiradas de Deus, que não é abalada nem por um pensamento decorrente da necessidade natural, nem pela aparente piedade.
O que é característico dos fiéis? Viver nesta confiança através do poder das coisas ditas, não ousando retirar ou acrescentar nada. Porque se “tudo o que não provém da fé é pecado” (Rm 14:23), conforme disse o apóstolo, “e a fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem da palavra de Deus” (Rm 10:17), então qualquer coisa fora das Escrituras inspiradas, que não seja de fé, é pecado.
O que é característico do amor de Deus? Guardar Seus mandamentos enquanto busca Sua glória.
O que é característico do amor ao próximo? Não buscar o que é seu, mas aquilo que traz benefício tanto espiritual quanto físico para a pessoa amada.
O que é característico de um cristão? Nascer de novo através do batismo da água e do Espírito.
O que é característico do nascido na água? Que, assim como Cristo morreu uma vez por todas pelo pecado, para que esteja morto e imune a toda transgressão, conforme está escrito: “todos os que foram batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte; e assim fomos sepultados com Ele na morte por meio do batismo, sabendo que o nosso velho homem foi crucificado com Ele, para que o corpo do pecado fosse destruído, para que não fôssemos mais escravos do pecado” (Romanos 6:3- 4a, 6).
Qual é a característica de nascer do Espírito? Tornar-se, segundo a medida que lhe foi dada, aquilo de que nasceu, segundo o que está escrito “o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6).
O que é característico dos nascidos de cima? Despojar-se do velho homem com as suas obras e anseios e revestir-se do novo homem, renovado no conhecimento, à imagem do seu Criador (cf. Col. 3, 9-10), conforme foi dito: “ todos os que foram batizados em Cristo, em ti os revestistes de Cristo” (Gálatas 3:27).
O que é característico de um cristão? Purificados de toda contaminação carnal e espiritual através do sangue de Cristo e fazendo obras santas com o temor de Deus e com o amor de Cristo (cf. 2 Coríntios 7:1), e não tendo mancha ou vício ou qualquer coisa assim, mas ser santo e irrepreensível (Efésios 5:27), e assim comer o corpo de Cristo e beber o sangue, “pois quem come e bebe indignamente, come e bebe a sua condenação” (1 Coríntios 11:29).
O que é característico de quem come o pão e bebe o cálice do Senhor? A preservação constante da memória Daquele que por nós morreu e ressuscitou.
O que é característico de quem guarda essa memória? Que eles não vivam para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por eles (2Co 5:15).
O que é característico de um cristão? Superar em justiça em tudo os escribas e fariseus (Mateus 5:20), segundo a medida do ensino do Senhor segundo o Evangelho.
O que é característico de um cristão? Amem uns aos outros como Cristo nos amou (Efésios 5:2).
O que é característico de um cristão? Ver sempre o Senhor diante dele (Sl 15:8).
O que é característico de um cristão? Estar acordado todos os dias e todas as horas e constantemente pronto na maior perfeição para agradar a Deus, sabendo que o Senhor virá numa hora que ele não espera (cf. Lucas 12:40).
Observação: As regras morais (Regulae morales; Ἀρχή τῶν ἠθικῶν) são uma obra de São Basílio Magno, na qual ele cumpre da melhor maneira possível sua promessa feita aos ascetas da região do Ponto: reunir em um só lugar as proibições e obrigações espalhadas aqui e ali no Novo Testamento para aquele que vive segundo os mandamentos de Deus. Estas são instruções espirituais que até certo ponto se assemelham a um prático livro de referência para os textos do Novo Testamento. Eles contêm oitenta regras, com cada regra dividida em um número diferente de capítulos.
A última Regra 80 contém vinte e dois capítulos que tratam de maneira geral do que os cristãos devem ser, bem como aqueles a quem foi confiada a pregação do Evangelho.
Esta regra termina com o Capítulo 22, que, no entanto, é diferente dos demais. Talvez deva ser visto como um epílogo de todas as Regras Morais. É claro que também nele o santo permanece fiel a si mesmo, enchendo-o de citações e alusões a textos bíblicos, mas ao mesmo tempo, ao lê-lo, fica-se com a sensação de uma elevação constante, em que cada resposta leva a a próxima pergunta.
Fonte: Patrologia Grega 31, 868C-869C.