“Nosso país vencerá e reconstruiremos Kharkiv” disse Tatiana Yehorova-Lutsenko, presidente do Conselho do Oblast de Kharkiv (2.6 milhões de habitantes), quando conversou com Willy Fautré, Diretor de Human Rights Without Frontiers em Bruxelas no final de março.
Por dias e dias desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia vem atacando a cidade de Kharkiv (1.5 milhão de habitantes) perto da fronteira russa com artilharia, foguetes, munições cluster e mísseis guiados, uma barragem implacável. A maioria dos moradores de Kharkiv fala russo e muitos são russos étnicos. Eles nunca pediram ou precisaram ser libertados do “regime nazista de Kiev”, como Vladimir Putin qualifica o governo democraticamente eleito da Ucrânia liderado pelo presidente Volodymyr Zelensky e pelo primeiro-ministro Denys Shmyhal, ambos de ascendência judaica, como foi o ex-primeiro-ministro Honcharuk.
Q: Tatiana Yehorova-Lutsenko, você pode nos contar sobre sua formação política e nos explicar o que é o Conselho de Kharkiv Oblast?
Fui eleito na lista do partido do presidente Zelensky, Servo do Povo, e estava no topo da lista de seus candidatos. Sou a primeira mulher a presidir o conselho da oblast (região). É composto por 120 membros eleitos democraticamente para um mandato de cinco anos e é o maior da Ucrânia. Sua sede está situada no centro administrativo do oblast de Kharkiv, que foi bombardeado em um ataque com mísseis em 1º de março.
Cinco partidos políticos estão sentados no conselho. Ninguém esperava que a Rússia invadisse nosso país.
P: A Ucrânia agora vive sob a lei marcial. Qual é o estado de espírito da população em Kharkiv?
Agora, sob a lei marcial, o governador também é o chefe da administração militar e, por mais de um mês de cerco, a Rússia não conseguiu conquistar nossa cidade. Vladimir Putin tentou desmoralizar a população da cidade com um poder de fogo esmagador e indiscriminado, mas não teve sucesso. A única coisa que Putin conseguiu foi unir todos os habitantes do oblast de Kharkiv, convertê-los em fortes resistentes à invasão e solidificar sua identidade ucraniana, mesmo entre aqueles que tinham alguma simpatia pela Rússia antes da guerra. Certamente não era isso que Putin esperava quando atacou nosso país. Ele pensou que seria recebido de braços abertos como salvador na região de Kharkiv e a ocuparia militarmente em alguns dias.
P: Qual é a situação dos moradores de Kharkiv agora?
Dois terços partiram para o oeste de carro ou de trem para outras cidades como Poltava ou Dnipro, e de lá para outras partes da Ucrânia ou para países vizinhos. Um milhão de pessoas de Kharkiv estão agora deslocadas internamente ou na Polônia. São principalmente mulheres e crianças. Os homens ficaram para lutar.
Um número desconhecido de habitantes do oblast foi levado pelas forças de ocupação, contra sua vontade, para a Rússia, o país agressor. Outros optaram por fugir para a Rússia e de lá para a Armênia ou a Geórgia, onde pegaram um voo para um país ocidental.
P: Nos últimos dois anos, a escolaridade dos jovens foi severamente perturbada pelo COVID e agora está ainda mais ameaçada pela guerra. Qual é a situação da educação escolar?
Existem dezenas de universidades em Kharkiv e centenas de outras escolas de todos os níveis. Por falta de segurança, é claro que eles estão fechados. Há centenas de milhares de estudantes e alunos de todas as idades. Pelo menos dois terços deles vivem em outras partes da Ucrânia ou em países vizinhos. Durante a pandemia, começamos a implementar aulas de zoom. O corpo docente continua a trabalhar à distância na Internet e os alunos podem acompanhá-los de qualquer lugar dentro ou fora da Ucrânia. Claro que não é o ideal, mas devemos manter os jovens ativos. Eles são o futuro do país.
P: Quais são suas necessidades mais urgentes?
Neste momento, ajuda humanitária, armas e zona de exclusão aérea. Após a guerra, um sistema de geminação entre as nossas regiões e as regiões da UE será altamente necessário para a reconstrução do nosso país.
