Duas vezes mais massiva que o Sol, a estrela HL Taurus está há muito tempo à vista de telescópios terrestres e espaciais
O telescópio de radioastronomia ALMA (ALMA) forneceu as primeiras imagens detalhadas de moléculas de água no disco onde os planetas podem nascer da estrela muito jovem HL Tauri (HL Tauri), informou a AFP, citando uma pesquisa publicada na revista Nature Astronomers.
“Nunca imaginei que poderíamos obter uma imagem de um oceano de vapor de água na mesma região onde é provável que um planeta se forme”, disse Stefano Facini, astrónomo da Universidade de Milão e principal autor do estudo.
Localizada na constelação de Touro e muito próxima da Terra – “apenas” 450 anos-luz de distância, a estrela duas vezes mais massiva que o Sol HL Taurus está há muito tempo no campo de visão de telescópios terrestres e espaciais.
A razão é que a sua proximidade e juventude – com no máximo um milhão de anos – oferecem uma vista espectacular do seu disco protoplanetário. É a massa de gás e poeira ao redor de uma estrela que permite a formação de planetas.
De acordo com modelos teóricos, este processo de formação é particularmente frutífero num local específico do disco – a linha de gelo. É aqui que a água, que está na forma de vapor perto da estrela, se transforma em estado sólido à medida que esfria. Graças ao gelo que os cobre, os grãos de poeira coagulam-se entre si com mais facilidade.
Desde 2014, o telescópio ALMA tem fornecido imagens únicas do disco protoplanetário, mostrando anéis brilhantes alternados e sulcos escuros. Acredita-se que estes últimos traem a presença de sementes de planetas, que são formadas pelo acúmulo de poeira.
O estudo lembra que outros instrumentos detectaram água em torno de HL Taurus, mas com uma resolução demasiado baixa para delinear com precisão a linha de gelo. Da sua elevada altitude de mais de 5,000 metros no deserto chileno do Atacama, o radiotelescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO) é o primeiro a definir este limite.
Os cientistas também notam que, até à data, o ALMA é a única instalação capaz de resolver espacialmente a presença de água num disco frio de formação planetária.
O radiotelescópio detectou o equivalente a pelo menos três vezes a quantidade de água contida em todos os oceanos da Terra. A descoberta foi feita em uma região relativamente próxima da estrela, com raio igual a 17 vezes a distância entre a Terra e o Sol.
Talvez ainda mais significativa, segundo Facini, seja a descoberta de vapor d’água a diversas distâncias da estrela, inclusive no espaço onde atualmente é possível a formação de um planeta.
Segundo cálculos de outro observatório, não falta matéria-prima para sua formação – a massa de poeira disponível é treze vezes a da Terra.
O estudo irá, portanto, mostrar como a presença de água pode afectar o desenvolvimento de um sistema planetário, tal como aconteceu há 4.5 mil milhões de anos no nosso próprio sistema solar, observa Facini.
Porém, a compreensão do mecanismo de formação dos planetas do Sistema Solar permanece incompleta.
Foto ilustrativa de Lucas Pezeta: https://www.pexels.com/photo/black-telescope-under-blue-and-blacksky-2034892/