Na quinta-feira, um colega e eu fomos convidados a participar do maior Iftar público aberto da Europa em Trafalgar Square pela Aziz Foundation. Milhares de pessoas compareceram. Para quem não sabe, Iftar é a refeição de jejum no final de cada dia durante o Ramadã, quando o jejum ocorre do amanhecer ao anoitecer. É uma tradição espiritual de milhões de muçulmanos em todo o mundo e foi compartilhada com qualquer pessoa, muçulmana ou não, na Trafalgar Square. Não foi apenas na Trafalgar Square que isso aconteceu, mas em casas de muçulmanos em todo o Reino Unido e em outros lugares durante todo o período do Ramadã.
O Ramadã é um momento de doação e reflexão para os muçulmanos. É tempo de autodisciplina e de pensar nos menos afortunados (embora crianças, grávidas, idosos e doentes ou viajantes não sejam obrigados a jejuar). É até bom para a saúde, permitindo que o corpo recupere um certo equilíbrio e regimes alimentares semelhantes são aconselhados por muitos profissionais de saúde hoje (dieta cetônica, jejum intermitente etc.)
Mas voltando a Trafalgar Square. O que me impressiona é que um evento como esse possa acontecer em Londres, no Reino Unido, em um dos lugares mais icônicos da cidade com a aprovação e anuência do poder público. Mostra um verdadeiro acolhimento de outras religiões no tecido da sociedade britânica. Deus sabe (se posso usar essa expressão), e sem dúvida Ele sabe, que há muito a ser consertado na sociedade britânica – embora um enorme ponto positivo seja que este festival possa acontecer em um local público celebrado por todos que desejam comparecer.
Diz algo para o espírito britânico de compreensão e tolerância, que não precisamos ser rígidos em nossa abordagem à religião. Que podemos acolher todas as religiões e que as pessoas de todas as religiões são britânicas. Não há nada além de positivo nisso.
Em contraste, não consigo imaginar um Big Iftar sendo realizado na Place de la Concorde ou, Deus me livre, La Bastille. Choque e horror! “Estamos sendo invadidos por hordas estrangeiras” seria, imagino, a reação instintiva, enquanto a intelectual é que “a separação entre Igreja e Estado requer uma divisão estrita onde nada religioso pode impor, mesmo que fracionadamente, no espaço público”. Para mim, embora não tenha nenhum problema com o princípio da separação entre Igreja e Estado, tenho um problema com a aplicação extrema desse princípio em que o dogma não religioso do secularismo é imposto a outros com uma veemente determinação bastante equivalente que , em termos religiosos, ser atribuído a um fanático.
Eu só tenho que olhar para algumas decisões recentes do Tribunal francês que forçaram a remoção de estátuas religiosas em terreno público, mesmo quando a maioria das pessoas da cidade queria que a estátua permanecesse.
Proibir a invasão da religião no espaço público a tal ponto é para mim tão fanático quanto tentar impor uma lei religiosa avassaladora a todos em uma sociedade. A não religião da laicidade torna-se fascista.
Mas, novamente, de volta à Trafalgar Square. Eu, pelo menos, fiquei feliz e também muito emocionado ao ver um grupo de senhoras com lenços de cabeça perto de mim em um pequeno grupo fazendo orações juntas quando o Iftar se aproximou. Vi bondade em seus rostos e uma bela expectativa de sua fé.
Fiquei feliz por terem sido providenciados tapetes de oração na praça para que os homens pudessem se prostrar diante de seu Deus. Posso não ser muçulmano, mas eles certamente não estão me fazendo mal – pelo contrário, eles ajudam o mundo de várias maneiras por meio de suas atividades de caridade – e quem sou eu para dizer como eles devem praticar sua fé? E por que eu deveria me incomodar? É claro que não, embora alguns que são mais mesquinhos possam encontrar todos os tipos de motivos para reclamar.
Uma delas pode ser que os palestrantes do evento incluíram o prefeito de Westminster e o Lord Mayor de Londres – ambos são muçulmanos. Com isso, ouço resmungos novamente sobre 'ser dominado'. Mas eles são britânicos e têm todo o direito de concorrer a cargos públicos. E a grande maioria de seus colegas conselheiros e colegas políticos a quem eles prestam contas não são muçulmanos e de muitas outras religiões e nenhuma – então não acho que esse argumento seja válido também.
Estou feliz por termos uma sociedade inter-religiosa vibrante no Reino Unido. Claro, existem problemas, mas o que existe já é um bloco de construção vital de compreensão e inclusão que fala bem da abordagem do Reino Unido à religião. Isso também mostra que o próprio novo rei anunciou publicamente que é o Defensor da Fé (não a Fé de uma só fé). Também vemos outros festivais religiosos minoritários celebrados de maneira semelhante ao Big Iftar. Por exemplo, não faz muito tempo, o festival hindu de Divali, o festival das luzes, também era celebrado em Trafalgar Square. A maioria das pessoas é de boa fé, religiosa ou não. Procure os pessimistas onde há problemas. Provavelmente são eles que estão gerando conflitos.
